domingo, 5 de agosto de 2012

Pontos & Reticências



No dia 24 de julho, uma terça-feira, por volta de sete e meia da noite – em pleno inferno astral! – eu despenquei de uma escada no Espaço Cênico. Queda livre! Como disse logo depois ao médico, isso aconteceu porque eu estava salvando a humanidade pregando uma perna preta no teto do teatro. A escada fechou e eu, qual Ícaro desavisado, mergulhei livre, leve e solto para um estrago no braço esquerdo (fraturas, rompimento de tendões, deslocamento do cotovelo e alguns eteceteras!). Mas como? Oras, eu estava me divertindo, estava trabalhando, fazendo o que mais gosto que é estar no teatro dando forma às coisas, sejam elas, o cenário, as palavras, as ações cênicas ou a limpeza. Minha vida! Ontem um amigo me perguntou de chofre: “Por que você faz teatro?” E eu respondi numa velocidade comparada à da minha queda: “Porque odeio a realidade.” – Ela, a realidade, que se escancarou à minha frente nos últimos dias entre remédios, aparelhos, cirurgias, fisioterapia, dores e desconfortos. Isaac Newton nada entendia de poesia! Uma queda dessas só teria alguma graça poética se acontecesse em câmera lenta e ainda por cima se por algum truque ótico o meu corpo nunca atingisse o solo. E se ao invés do braço o que tivesse atingido o chão com a força que atingiu, fosse a minha cabeça... bem... melhor pensar que ninguém morre na véspera! E as artes? E o teatro? Tiveram – e tem! – que esperar. Justo quando o Espaço Cênico recebia a visita de ilustres falecidos que reviraram o pensamento e o uso das palavras como se a arte fosse um liquidificador de imagens e letras: Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Franz Kafka, Oscar Wilde, Jim Morrison, Rimbaud, Marques de Sade, Anais Nin, Jack Kerouack, Charles Bukowski, Andy Warhol, Nelson Rodrigues e... até Pier Paolo Pasolini. Convenhamos, é muito morto pra um vivo só dar conta! E, claro, eu despenquei! Encarei o vazio como se estivesse marcando um encontro com qualquer um deles, ou todos, antes da hora. E aí, sozinho no silêncio daquilo que não tem volta, o imponderável vai dando as cartas. E o que era pra ser amanhã teve que ser trocado por um outro tempo. Por exemplo, Pasolini e sua vida depois do sonho. Eu, desesperando urgências e o Elder descobrindo que tem que voltar à televisão. Pasolini e sua recusa em deixar-se aprisionar, seja pelo cinema, pela literatura, pela política ou por uma peça de teatro. Pasolini, o corsário! Alguns meses separarão o que era para ser agora e vai ser depois. “Quem somos nós? Perguntou o menino, ao pai, enquanto eles cortavam árvores para produzir madeira. Nós?, respondeu o pai. Nós somos como troncos de árvores na neve. Aparentemente eles jazem soltos e um pequeno impulso deveria ser suficiente para fazê-los rolar. Mas não, isso é impossível, porque estão firmemente atados ao chão. O menino abriu os olhos, espantado com a revelação. E o pai concluiu: Mas veja, até isso é apenas aparência”. Isso é Franz Kafka. Mas poderia ser qualquer um dos outros mortos citados aí atrás! É tanta arte, tanto sonho, tanto desejo, tanta necessidade, que os caminhos da realidade se misturam aos do sonho e a vida parece ir sendo escrita nas estrelas enquanto a carne se regenera e o osso cola. Nossos vivos e nossos mortos! O Elder, meu ator querido volta agora ao Rio de Janeiro gravar uma minissérie na Record e eu fico aqui em Curitiba elaborando “Kafka – A Vigília”, enquanto Pasolini espera mais um pouco. Quando retornarmos a ele, talvez mais cedo do que se imagina, outras artes terão acontecido por força da paixão. E outros sonhos já estarão visitando nossos sonos. Como disse o bardo... “Viver, dormir... talvez sonhar...” e outra, tão complexa mas bem mais próxima: “A felicidade vive numa encruzilhada...” – Clarice Lispector. Então que nosso encontro no palco (meu, do Elder e do Pier) será adiado por conta do que é concreto. Só o destino. E agora, para quem espera um ponto final eu me reservo o direito de terminar este post com reticências... (Edson Bueno)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

"Onde O Diabo Perdeu As Botas" Pelas Lentes De Chico Nogueira









Marcio Meneghell e Edson Bueno em 
"Onde o diabo perdeu as botas" 
no Espaço Cênico (Rua Paulo Graeser Sobrinho, 305 - S. Francisco - CWB)
De quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h.
(foto Chico Nogueira)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Pasolini, Ator


Il Gobbo, filme de 1960 dirigido por Carlo Lizzani com Pier Paolo Pasolini no papel de Leandro. 

domingo, 29 de julho de 2012

Lucan Vieira Escreve Sobre "Pasolini, A Vida Depois Do Sonho"


Lucan Vieira em foto de Chico Nogueira


http://grupodeliriociadeteatro.blogspot.com.br/


Unir três artistas


 Unir Cinema e Teatro


 Unir


 "Essa foi a ideia do novo trabalho de Edson Bueno e Elder Gattely, UNIR! O monólogo inspirado na vida e obra de Pasolini trás não só uma pesquisa psicológica e teórica, mas também uma carga de experiência de dois artistas que trazem um reencontro para a criação de mais um brilhante espetáculo." Clicando no link acima você acessa o blog do Grupo Delírio e vê o post completo.....

Edson Bueno, O Evangelho Segundo São Mateus, Sábado, 28 De Julho





O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS - Sábado dia 28 de julho - Porque o ar, o ar contém uma quantidade enorme de microorganismos vivos... são os chamados... Gralha Azul de Melhor Adereço de Figurino!

Em Agosto


  Pasolini, A Vida Depois Do Sonho




Com Elder Gattely


Direção: Edson Bueno


Curitiba




sábado, 28 de julho de 2012

Teorema & Odetta



 


 

Em Teorema (1968), Odetta cai num estado catatônico de silêncio absoluto, os olhos abertos e punhos cerrados. Pasolini escolheu a filha daquela família burguesa para expressar a capacidade de uma jovem mulher em resistir à opressão cultural que segundo ele grassava entre as classes privilegiadas na Itália da década de 60 do século passado. Paradoxalmente, a garantia da liberdade dela consistiria nesse enclausuramento hermético em si mesma – se guardando desse mundo “profanado”. Segundo Collen Ryan-Scheutz, o singular gesto de Odetta com seu silêncio, olhos abertos e punho fechado não significa a incapacidade dela de aprender sua essência numa sociedade corrupta. Ao contrário, sua atitude prova que ela percebe e captura sua essência e que, apesar de pagar o preço de perder seu lugar na sociedade, Odetta não a deixará escapar. O preço então é se tornar um desviante, alguém para quem não há lugar na sociedade? O fato de a família acabar internando Odetta numa clínica psiquiátrica mostra apenas a incapacidade da sociedade burguesa tolerar a “diversidade encarnada” de uma forma definitiva. Outra forma de ausência que vale como presença é o silêncio de Emilia, a funcionária da casa burguesa.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

"Ostia", De Sergio Citti, Pasolini Roteirista



Bela surpresa Sergio Citti como diretor. Picaresco, lúdico e grotesco, mas ao contrário do que o trio de adjetivos sugere, nada a ver com Pasolini. Early Monteiro com Renoir relidos numa chanchada de Eliseu Visconti.





Em Agosto


  Pasolini, A Vida Depois Do Sonho




Com Elder Gattely


Direção: Edson Bueno


Curitiba